sexta-feira, 20 de julho de 2012

PERIGO




Pensar que a noite seria tranquila foi um terrível engano. Horas já haviam se passado do enterro de Nicolae e a madrugada deitava suas horas misteriosas quando, no reino dos mortos, recebi uma mensagem inesperada. Vagava novamente próxima ao salgueiro onde Oanna me levara, quando uma voz conhecida me chamou:
_Irina... Irina!...
Voltei-me para trás e vi, para minha total estupefação, Mircea e Ciprian, escondidos dentro do tronco do salgueiro. Suas fisionomias estavam mudadas, mostrando-se sadia, normal, apesar dos sembalntes preocupados. Fui até eles e recebi de imediato a primeira má notícia:
_Irina, perdoe-nos por desapontá-la, mas estamos mortos. _revelou Ciprian.
_Como?!... _Indaguei atordoada.
Mircea respondeu:
_Traian! Traian, Irina! Seu exército nos matou...
_Sim. _completou Ciprian. _Lutamos o quanto podemos, até despachamos seis dos deles, mas eles nos pegaram... Veja!...
Imediatamente visualizei a emboscada em que meus amigos cairam, a meio caminho de Somlyó, quando os enviei. Tenebrosos soldados vampiros _todos montados _dos quais eu só conseguia divisar a terrível silhueta, as presas e os injetados olhos vermelhos, cercaram meus companheiros. Estes brandiram suas espadas e ceifaram as vidas dos primeiros que deles se aproximaram. Mas uma seta atravessou o coração de Mircea e ele estacou. Ciprian olhou, sem acreditar, para seu companheiro alvejado. De repente, uma seta, seguida de outra e mais outra, acertaram-lhe certeiramente o peito. O sangue começou a escorrer do canto de sua boca. Outras setas se cravavam nas costas de Mircea e ele tombou sobre o cavalo, os olhos revelando esforço em continuar vivo. Ele, porém, os fechou e então espirou. Vi então uma bota suja de lama o empurrar de cima do cavalo, fazendo-o tombar no chão. Era ele... mais fantasmagórico que nunca... Traian!... Neste momento a visão se desfez.
_Onde estão Ioan e Florin? _indaguei desesperada.
_Não sabemos, não os vimos por aqui... Fomos atacados enquanto eles estavam dando água para seus cavalos. _respondeu Mircea.
Meus olhos marejaram de lágrimas e o desespero me tomou. Mircea continuou:
_Eles estão indo para Somlyó, Irina. Logo chegarão ai...
_Eles não podem entrar no castelo, nunca foram convidados! _argumentei.
Mircea me desconcertou:
_Podem sim! Traian tinha permissão de seu pai para entrar no castelo com seus homens quantas vezes quisesse. Como seu pai jamais o proibiu formalmente de entrar em sua morada ele, e qualquer exército por ele comandado, estão imunes aos anjos que guardam seu castelo.
_O que?!... _exclamei pasma. _Quem lhes disse isso?...
_Friderika nos informou. _respondeu Mircea sem pestanejar.
Meu espírito se atordoou. Calei!... Friderika era o nome da minha avó, mãe de papai. Não a conheci, pois nasci anos após seu falecimento. Ao me ver paralizada, impaciênte, Ciprian rogou:
_Acorde, Irina! Eles estão chegando! Acorde! Pelo amor de Deus!
_Acorde, Irana! Acorde! _clamou também Mircea.
Ergui-me da cama com um gemido de desespero. Frei Emil surgiu logo em seguida, me baraçando e me acariciando os cabelos:
_O que foi minha menina? Calma, foi apenas um pesadelo!...
Abracei-o com força e respondi:
_Não! Não foi um pesadelo, foi um aviso!...
_Como assim?... _indagou frei Emil sem entender.
Olhei para ele desesperada e roguei:
_Frei... acorde a todos! Leve todos para o mosteiro!...
_Para o mosteiro, mas... por que?...
_um grande perigo está vindo!
_Grande perigo? Mas... que perigo?...
Não querendo assustá-lo, nem fazer pensar que estivesse louca, simplesmente respondi:
_Os soldados do príncipe, eles estão vindo! Leve todos para o mosteiro! Rápido!...
_Ó, meu Deus!.. _exclamou ele se benzendo.
_Rápido! _exclamei já pulando da cama.

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