A segunda malfadada investida de Traian se deu pouco antes do cantar do galo. Oito de seus homens adentraram o castelo e se dividiram em duas direções. Porém, o tempo foi-se passando e nenhum clarão de incêndio se fez. Ao ver que nada acontecia e os homens não retornavam, Traian enfureceu-se:
_Mas o que está havendo com esses imbecis? Resolveram dormir lá dentro?
_Devem ter sido pegos. _respondeu temeroso um dos soldados.
_Não ouvimos som de tiros, seu imbecil, nem de luta!
O soldado preferiu calar-se. Traian então determinou:
_Zoltán, Roland! Entrem e vejam o que está acontecendo!
Sabendo que deveriam temer mais a punição por desobediência do que o perigo que os aguardava, os soldados entraram. Mais uma vez o tempo se escoou e ninguém retornou. Apenas o silêncio continuou a reinar solene, sendo quebrado apenas pelas trovoadas que anunciavam uma tempestade para breve. Irado, Traian ordenou:
_Isto já é um absurdo! Preparem-se todos para entrar! Mas lembrem, só acendam as tochas lá dentro! Escondam as lanternas com flanelas!
Os homens então seguiram seu obstinado capitão e adentraram ao pátio do castelo. Traian então ordenou:
_Vocês dez sigam pela direita! Vocês outros sigam pela esquerda!
Os homens obedeceram. Ele, mais cerca de trinta homens permaneceram no pátio. Traian então descobriu a lanterna que levava e fez menção de acender sua tocha. Porém, uma forte e inesperada rajada de vento apagou o fogo da lanterna. Logo em seguida, como se fossem feitos do mais leve material, os enormes portões de madeira se fecharam. Arrastaram consigo seis homens. Dois tiveram as pernas partidas, presas que foram às grossas toras de madeira. Seus ossos ficaram expostos. Outros três, cuspidos para fora do castelo, quebraram os pescoços ao rolarem estrada abaixo. O último, que também foi projetado para fora, morreu ao ser atravessado por um galho traiçoeiro.
Do lado de dentro, sem que os já assombrados homens esperassem, duas lanternas se acenderam diante da porta de entrada. Ao alto da escada, trajando um vestido em tons de carne e ladeada por Sanziana e Steliana, Oanna saudou os visitantes:
_Vejo que tenho convidados para a noite de hoje! Esperam que estejam à vontade!
Numa reação instintiva os homens recuaram temerosos. Indignado com seu temor, Traian respondeu em voz alta:
_A única ceia que se fará aqui será a dos abutres, ao amanhecer!
Puxou então a pistola, engatilhou-a e apontou para Oanna. Desferindo um tapa no ar, Oanna fez a pistola voar longe e estatelar-se em uma das paredes. Soltando um grito de dor _Aahrr!... _ Traian pôs a mão sobre o pulso, que quase deslocara mediante a força do miraculoso golpe.
Os homens recuaram apavorados. Oanna então, abrindo os braços, fez com que todas as lanternas do castelo se acendessem, ofuscando os soldados com seu intenso brilho. Era o sinal para que o banquete se iniciasse. Saindo de todos os cantos possíveis do castelo, três dezenas de vampiros, de olhos vidrados e presas à mostra, caíram sobre a tropa.
Mostrando terrivelmente suas presas, Oanna saltou, pairando no ar com os braços abertos, a capa se estufando atrás, como terríveis asas vermelhas. Vendo-a flutuar, vermelha e sobrenatural, muitos soldados gritaram. Sem piedade, ela saltou sobre o primeiro que teve diante de si e abocanhou seu pescoço!... As presas se enterraram tão profundamente na carne, que uma artéria perfurada fez o sangue espirrar com força. Para que não houvesse reação, apagou novamente as lanternas e deixou o castelo às escuras, sendo iluminado apenas pelos clarões dos raios da tempestade que se aproximava.
Em volta, gritos pavorosos ecoavam na madrugada. Tiros estouravam desesperados, piscando como pirilampos na escuridão. Seus estampidos soaram durante horas, sem que detivessem a sanha da amaldiçoada criadagem. Como anjos do inferno, Sanziana e Steliana balançavam as cabeças de um lado para o outro ao morderem, como fazem os cães e lobos, para rasgar a carne. Após drenarem suas vítimas, as jogavam exangues no chão e avançavam sobre a próxima presa. As bocas, rostos e vestidos borrados de sangue, os cabelos soltos sendo esvoaçados pelos fortes ventos, que zuniam.
Aqueles que conseguiram escapar, correram para a parte de trás do castelo. A tempestade finalmente desabou! Um grupo, ao passar por um dos corredores externos, gritou horrorizado. Inesperadamente, do alto do arco, cinco cabeças penderam como um bizarro lustre, presas por cordões. Ao reconhecer o rosto daqueles que primeiro entraram no castelo, não apenas gritaram, mas clamaram pela piedade divina:
_Piedoso Deus! Salve nossas almas! _clamou um deles.
Outro grupo intentou atravessar outro corredor. Porém, mal o adentraram, correram desesperados no sentindo inverso. Seu comandante, que parecia querer imitar a arrogância de Traian, esbravejou:
_Seus covardes! Do que estão fugindo?!...
Adentrou então... e seu sangue gelou!...
_Deus... _murmurou.
Minha implacável silhueta avançava a passos largos em sua direção, de espada em punho!... caminhando sobre o teto!... Um único golpe fez sua cabeça rolar, batendo na parede e saltitando sobre o chão. O sangue borrou as pedras em volta. Os soldados tomaram o rumo do pátio principal. Mas outras cinco cabeças penderam diante de seus olhos. Gritando desesperados, retomaram à direção anterior. Depararam-se, porém, comigo. Com duas adagas, podei a cabeça do primeiro, do segundo e do terceiro, como se usasse uma tesoura de jardim. Deixei os três restantes para servirem de pasto para meus companheiros. Ciprian, Florin, Ioan e Mircea se fartaram com seu sangue.