sexta-feira, 1 de junho de 2012

LEÃO




Arregacei a manga direita até o meio do antebraço e o estendi para que ele mordesse e sugasse. Meu propósito não era tanto satisfazê-lo, mas controlá-lo. Na condição em que se encontrava, podia atacar os cavalos, o que seria nefasto, pois precisávamos de montaria para retornar ao castelo. Com avidez, ele puxou meu pulso e mordeu com força, fazendo-me soltar um leve grito. Sugou o sangue fortemente e por fim tive de contê-lo para que não me machucasse demais:
_Calma... Com calma. _dizia ternamente.
Acalentando seus cabelos com a mão esquerda, comecei a lhe instruir:
_Isso... beba. Seja um bom guerreiro... e obedeça o que eu lhe ordenar. Somente o que eu lhe ordenar...
Satisfeito, ele parou e olhou para mim, os lábios lambuzados de sangue, aguardando minhas ordens. Cortei um um pedaço da manga de meu vestido e improvisei uma bandagem para meu pulso. Estendi então a mão para Nicolae e o conduzi como uma criança até seu cavalo. Tive o zelo de encantar o animal antes de nos aproximarmos mais, pois do contrário ele fugiria. Montamos e seguimos para o castelo.
Quando chegamos, a situação não podia ser pior. Em frente ao castelo, nosso exército se engalfinhava com uma companhia de soldados do príncipe, numa ensandecida luta de espada. Segundo viria a saber mais tarde, esta pequena companhia era o que restara de um exército maior, atacado inesperadamente por... vampiros!...
Não me detive no meio da batalha, passei ao largo e entrei com Nicolae no pátio do castelo. Montes de corpos de székelys jaziam no chão, visivelmente cozinhados por óleo fervente. Outros tantos estavam varados por setas. A porta principal do torreão, porém, estava arrombada, deixando claro que nossos homens haviam conseguido entrar. Desapeamos e, acariciando o rosto de Agathon, ordenei para que ele e o outro cavalo se mantivessem escondidos em uma área sombria. Os animais se afastaram e nós subimos as escadas. Não o fizemos da forma usual, mas caminhando sobre a ponte plasmática de força invisível, que nos fazia parecer estar deslizando pelos degraus da escada. Estando eu de vestido, parecia mesmo não possuir pés _que estavam encobertos _como um caracol. Nicolae usava seus poderes sem conhecê-los, pois estava sob meu domínio.
Os sons da batalha nos chegavam aos ouvidos à medida que avançávamos rapidamente degraus acima. Quando alcançamos o salão de entrada, székelys e soldados do conde se batiam em luta renhida. Corpos de ambos os lados jaziam no chão. Observando os székelys em vantagem, passei com Nicolae por eles, encantando-os para que não nos vissem. Adentramos no salão de visitas do conde, onde encontramos uma luta mais feroz. Nela, Mihail brandia a espada ao limite de suas forças. Liberei então o já inquieto Nicolae para fartar-se de sangue e desembainhei minhas duas adagas!...
Nicolae pulou sobre o pescoço do primeiro soldado incauto que encontrou e o sugou com força. Satisfeito, jogou seu corpo exangue contra outros dois, como se este fosse um mero boneco de pano. Desembainhou então a espada e começou matar!... Seus golpes eram tão fortes, que faiscavam ao choque das lâminas. Assustados com sua força e, mais ainda com sua imagem vampírica, os soldados gritavam de horror. Tentavam se afastar dele, mas seus golpes certeiros decepavam braços, cabeças, partiam rostos ao meio, rasgavam costas e dividiam colunas vertebrais. Em certo momento, Nicolae tomou uma lança caída ao chão e a atirou com tanta força que espetou dois soldados ao mesmo tempo, deixando-os ainda presos à parede. Ele era como um leão furioso!
Eu, por minha vez, corri para defender Mihail. Abri caminho ferindo e matando quantos surgissem à minha frente. Tão logo cheguei próximo a Mika, lancei uma de minhas adagas no rosto de seu opositor, que voou como que atingido por uma bala de canhão, chocando-se contra a parede. Admirado, Mika olhou para ver quem lançara tal petardo e se deparou comigo. Sorrindo, exclamou:
_Irina!