domingo, 22 de abril de 2012

REVIRAVOLTA





Atravessamos o Cheile e voltamos para Csik sem mais problemas. Porém, mal chegamos encontramos cavaleiros szekelys na floresta. Notei sua excitada movimentação e mandei Florin os parar. Ele ergueu a mão e os quatro cavaleiros se aproximaram. Foi quando notei que eram muito jovens. Perguntei então:
_O que está havendo?
_Quem é a senhorita? _perguntou de volta aquele que parecia ser o líder, que não ostentava mais de 15 anos e cujo semblante me era um tanto familiar.
_Irina de Somlyó! _respondi.
Eles se entreolharam demonstrando admiração, sorriram entusiasmados e o líder então indagou com a empolgação inerente à sua idade:
_Irina de Somlyó, a marquesa vampira, cortadora de cabeças! filha de Joszef de Somlyó?!... Não acredito!...
Seus amigos menavam a cabeça negativamente, os olhos brilhando de emoção, como se também dissessem "Não acredito!".
_Quantos anos você tem, garoto? _inquiri sem lhe confirmar o que queria.
_Catorze! _respondeu.
_Qual o seu nome? _investiguei.
_Mózes Székely! _respondeu com orgulho.
_Vejo que tem o nome de nosso povo. É filho de János Literati, presumo... _investiguei já reconhecendo o rosto do rapaz, cuja imagem de criança ainda era viva em minha memória.
_Sim! _confirmou.
_O que faz por aqui, à mercê dos soldados do príncipe? _inquiri.
_Sou um rebelde! _respondeu cheio de si. _Nosso povo está tomando o castelo de conde Vladmir, o contrabandista cobrador de impostos. O canalha deve cair em breve!
_Como?! _impressionei-me.
_Já recuperamos Somlyó. Seus irmãos tomaram seu castelo de volta faz uma semana. A maior parte do povo se refugiou na abadia. Ela virou nosso quartel! _Riu-se. _Estou vindo agora do castelo do conde. O estamos sitiando desde ontem.
_Vênus!... _admirei-me. _Meus irmãos estão com vocês?
_Estão sim! Marton ficou em Somlyó, defendendo a comuna. Mas Nicolae e Mihail estão conosco.
_Temos de nos apressar! Vamos! _disse para meus companheiros.
Partimos a todo galope rumo ao castelo do conde. Atrás de nós, o garoto ainda gritou:
_Avisem aos nossos que logo levaremos as provisões!...

domingo, 15 de abril de 2012

LEITE





















No dia seguinte, Simona ainda se recuperava de seu ferimento. Quatro taças cheias de sangue conseguiram salvar sua vida, mas ela ainda convalescia. Oanna então mandou chamar uma camponesa chamada Alexandra. Com um rosto infantil, mas um imenso corpo e seios igualmente imensos, ela vinha carregando, sorridente, seu primeiro bebê, uma menina que dormia serenamente. Todas as criadas estavam encantadas com a criança. Não pude deixar de me encantar também e pedi para pegá-la no colo.
_Qual é o nome dela? _perguntei.
_Helena! _respondeu com sua voz meiga.
De repente, duas criadas chegaram com dois vasos de dois palmos e uma chave de comprimento e um palmo e uma polegada de espessura cada. Enquanto eu ninava a criança em meus braços, Alexandra ordenhava o imenso seio, despejando uma quantidade absurda de leite. Sabia que havia mulheres com muito leite, mas aquela era uma verdadeira vaca leiteira. Enchera os dois vasos e ainda uma taça, que Oanna mandara trazer, pois o leite ainda escorria do seio.
Sem nenhuma vergonha, Oanna bebeu o leite que estava na taça e ainda elogiou lambendo os lábios:
_Você é uma menina muito saudável!
Alexandra limitou-se a rir com bondosa satisfação. Oanna então acenou com a cabeça para as criadas levassem o leite direto para Simona. Durante uma semana, Alexandra praticamente amamentou Simona. Seu leite era tanto, que sobrava até para nós, que não estávamos doentes. Devo confessar que era forte e delicioso.
O poder regenerativo do leite não tardou em curar completamente Simona. Os sete dias que ela levou para se recuperar passei no castelo, não somente para compensar sua ausência nos serviços, mas para me reestabelecer também. Todo o sangue que bebera em batalhas fora consumido em outras batalhas, de forma que eu estava um tanto desgastada. Umas poucas taças do leite de Alexandra e o sperma dos cliêntes _que felizmente eram abundantes na primavera! _me fez recuperar totalmente as forças. Uma vez Simona reestabelecida e de pé, preparei-me para voltar para junto de meus irmãos. Minha intuição me dizia que Traian ainda não era ameaçador, porém o céu revelava um acúmulo de forças que logo explodiriam em algum conflito, cuja natureza eu ainda não conseguia definir.
Em um fim de tarde, eu e meus companheiros montamos e partimos. Pouco antes de seguirmos, Oanna me aconselhou:
_É bom que seu antigo professor ainda esteja vivo. Vai precisar de um sacerdote muito em breve!
Não lhe respondi, apenas olhei em seus olhos como se respondesse: "_Eu já sei disso".

segunda-feira, 9 de abril de 2012

VAMPIRO MESTRE


 Marilyn Manson



Vi então novamente o deserto para onde a Dama de Azul me levou em nosso último encontro. O imenso ovo negro havia se partido! Ao longe, no horizonte, um homem seguia nu... era Traian!... A visão se desfez, Oanna me despertou com sua fala:
_Ele não é um vampiro qualquer, Irina, ele já foi atacado por vários vampiros, desde criança, desde de recém nascido... e sempre sobreviveu! Com certeza, o fato de ser um dampiro o ajudou.
_O que?!... _sobressaltei-me.
Oanna riu levemente e continuou:
_Você ainda não desenvolveu a capacidade de reconhecer os dampiros, não foi! Evidente! Em sua obsessão em ajudar sua família, não deixou que eu completasse sua instrução. Ele era um dampiro, fortíssimo! Mesmo meus poderes tinham pouco resultado sobre ele. Porém agora... finalmente encontrou seu destino: o inferno!... Ele é um vampiro demoníaco... Pior que isso!... É um vampiro mestre!...
_Você já o conhecia! Por que não me falou? _questionei.
_Não revelo meus segredos para quem ainda não tenho plena confiança e veja que revelei muita coisa a você. Traian é natural desta comuna, é filho Helena, uma camponesa que viveu aqui nesta comuna. Seu pai, Adrian, era um de meus criados. O incumbi de engravidar uma camponesa para que tivéssemos um pouco de leite materno para degustar. Eu já estava farta de leite de cabra! _disse com esnobe desdém. _Ele engravidou Helena e assim nasceu Traian.
Oanna então soltou um grande suspiro e continuou:
_Minha intenção era manter Helena como "leiteira", pois ela tinha seios grandes. Mas infelizmente ela se apaixonou Adrian. Ele, porém, era um canalha desclassificado _o filho deve ter puxado à ele _e logo seduziu outra jovem, Alina, sem o meu consentimento. Helena ficou possuída de raiva e fugiu com o bebê. Para sua infelicidade, acabou sendo encontrada pelas prostitutas... Os parentes de Helena, seguiram em sua busca. Mas a encontraram morta, com os lobos já puxando-a pelos braços, disputando seu corpo. Por sorte... ou por algum maldito destino, o tio-avô de Traian matou o lobo que já o lambia, com um certeiro tiro no focinho. Eles então espantaram a alcateia com tochas e tiros e socorreram o bebê. O que viram então foi espantoso!... Mesmo perfurado por várias e assustadoras mordidas, ele ainda estava vivo!... Chorando alto e forte!...
Oanna então riu levemente, comentando em seguida:
_Ele sempre foi muito forte!... Helena foi imediatamente decapitada e queimada. Queriam fazer o mesmo com o bebê, mas sua avó, a velha parteira Nadia, não deixou. Ela o criou sozinha, na floresta.
_E o que aconteceu com Adrian? _investiguei.
_O matei! Ele não era um bom servo, não me obedecia. Tivemos uma discussão e enfiei uma adaga em seu coração. Às vezes acho que devia ter feito o mesmo com você.
Sem ligar para sua provocação, acusei:
_Ele era seu amante, não era?...
_Talvez! O que isso importa agora? _respondeu ela, visivelmente irritada.
Continuou sua narrativa então:
_Em vários momentos, Traian foi atacado por vampiros desgarrados, que as bestas das prostitutas geravam a torto e a direito! Matei a todos, Ion os despedaçou e queimou. Infelizmente não consegui dar cabo dessas meretrizes do Diabo. Elas têm demônios muito fortes as protegendo. O fato, porém, é que Traian  sobreviveu a todos os ataques de que foi vítima. Quando a velha Nadia morreu, ele já contava 13 anos. Seguiu então para a cidade de Brasov, onde se tornou soldado. Como nunca morreu das mordidas, fora o fato de ser um dampiro, a maldição se acumulou dentro dele. Ele adquiriu muito da aparência, da força e do desejo de sangue dos vampiros. Embora não o bebesse, gostava de vê-lo jorrar. Por isso se tornou o soldado eficiênte que sempre foi. Seu pai não o tomou como capitão à toa, ele era o melhor! Mas agora, Irina... foi inevitável... Traian já não era tão jovem, contava 41 anos... Sua resistência, após anos de combates... já não era mais a mesma. Ele morreu, Irina... e já despertou!...
_Sim... por sua culpa! Não pela minha. Você o gerou!... _acusei.
_Mas foi você quem terminou sua gestação... _rebateu.
_Isso não teria acontecido se ele tivesse morrido, se tivéssemos reforços, se tivéssemos Ion e seus companheiros conosco! Você sabia da possibilidade de ele se tornar vampiro! Você o conhecia! Por isso estava tão nervosa! Mas você preferiu ser mesquinha, sua cafetina, sua bruxa maldita!... _acossei-a.
_Basta! _vociferou. _Isso não importa mais agora! Seja como seja, ele está à solta e penso que será melhor nos unirmos para destruí-lo.

domingo, 8 de abril de 2012

MALDIÇÃO



Numa cerimônia simples, cremamos os corpos de nossos mortos. Estavam livres agora. Não precisavam de recomendações para suas almas, a morte lhes bastava. Mantivemos silêncio, enquanto seus corpos eram consumidos pelas chamas. Depois, recolhemos suas cinzas e as atiramos do alto das torres do castelo, para fertilizarem o solo.
Quando nos recolhemos, Oanna veio fazer sua cobrança:
_Vejo que você ainda não avaliou direito as consequências de seu magnífico plano.
_Se tivéssemos utilizado Ion e seus homens, o resultado seria muito mais auspicioso. _rebati serenamente.
_Não venha dizer que a culpa é minha! Foi você quem resolver começar esta loucura desde o início! _vociferou.
_Queria que eu ficasse aqui, como uma covarde, sendo apenas mais uma de suas prostitutas? _provoquei.
_Sim! E nada disso teria acontecido! E quer que lhe mostre mais! Feche os olhos e veja! Veja o que você conseguiu!...
Fechei meus olhos e vi Traian lutando contra vários vampiros. Ele brandia sua espada e os afastava com golpes precisos, na garganta e no coração. De repente, Ilona, surgiu e, antes que ele consiguisse reagir, mordeu seu pulso esquerdo. Ele gritou, porém, demonstrando, frieza, resistência a dor e reflexo impressionantes, avistou a pistola de um soldado caído ao seu lado. Abaixou-se, mesmo sentindo as presas de Ilona rasgarem-lhe o pulso, e a pegou com a mão direita. Foi quando notei que ele também era ambidestro, pois brandia a espada com a esquerda. Ele então encostou a pistola entre os seios de Ilona e disparou. Ao sentir o impacto ela largou seu pulso, andou cinco passos para trás e parou, cambaleante, o olhar perdido. Com a mão esquerda banhada em sangue, ele armou calmamente a pistola e disparou o fatídico tiro, que a atingiu ao alto da testa, atravessando a cabeça.
Antes que ele pudesse se regozijar, porém, Catalina surgiu selvagem. Com uma rapidez incrível, ele carregou a pistola e ainda apontou para ela, mas Petre o agarrou por trás e lhe desferiu uma poderosa mordida entre o ombro e o pescoço. Traian fechou os olhos e gritou. Porém, numa reação inimaginável, abriu novamente os olhos e disparou contra Catalina, que já estava bem próxima. Ao ser atingida, ela estacou, olhou para o ferimento e passou a mão sobre o peito ensanguentado, como se não acreditasse que tinha sido atingida. Sendo fortemente sugado por Petre, Traian puxou uma adaga da cintura e a cravou em sua coxa. Petre o largou. Mostrando incrível força e determinação, Traian virou-se e tentou armar novamente a pistola, porém não possuia mais chumbo na algibeira. Sem pestanejar, jogou a arma fora, tomou da espada e desferiu um golpe na garganta do cocheiro. Vendo-o golfar sangue pela boca, aproximou-se e terminou de ceifar sua vida, enterrando a espada em seu coração.
Após tirar a espada do peito de Petre e vê-lo tombar, rumou para o portão. Trazia a mão sobre o ferimento entre o ombro e o pescoço, que sangrava sobremaneira. Rilhando os dentes _sentindo toda uma dolorosa tensão sobre seus músculos! _ele conseguiu entreabrir o portão e fugir, esgueirando-se pela fresta. Logo a seguir, ele apareceu caído em algum lugar, sob uma faia. Estava morrendo... Sua compleição se apresentava muito pálida e ele respirava com dificuldade. Antes de expirar, sua boca balbuciou sem parar:
_Maldição... maldição... maldição...