domingo, 25 de setembro de 2011

PREPARAÇÃO





















Não sei ao certo se Oanna queria me treinar, ou me matar. Ela não chamou mortais para lutar comigo, chamou dois de seus cavaleiros vampiros. Eu não os conhecia. Eles não eram grotescos como Ion e os outros, eram até bonitos, mas... terrivelmente letais!... Quando entrei, ambos já me aguardavam, um em cada lado dela.
_Este é Theodor, Irina. Este é Victor!... _apresentou-os.
Theodor aparentava ter seus 33 anos, era magro, porém de músculos rijos. Seu cabelo era curto e já trazia fios grisalhos. Sua expressão era dura, algo amarga. Victor aparentava ser bem jovem, não ostentando mais que vinte anos. Tinha cabelos castanhos e lisos, longos até o pescoço. Seu rosto de menino era algo feminino, mas seu olhar cortante mostrava o anjo da morte que trazia dentro de si. Era excelente com a adaga. Oanna o trouxera de encomenda para mim.
Aproximei-me educadamente, parando à cerca de dez pés de distância dos dois. Seus olhos atentos seguiam cada movimento meu. Eu era uma fera que eles deveriam domar... ou matar! Fiquei parada diante deles, vendo-os acariciarem o cabo de suas espadas. Eles esperavam, certamente, que eu desembainhasse uma espada, ou adaga escondida atrás de minha capa, mas os surpreendi... e surpreendi Oanna também. Gentilmente juntei minhas mãos sobre o colo e... logo em seguida abri rapidamente os braços, com as palmas das mãos abertas! Duas adagas que se encontravam repousadas sobre cabides, nas paredes, voaram até mim. Agarrei-as, uma em cada mão, com firmeza!
Os dois cavaleiros desembainharam suas espadas e se puseram em posição de combate. Surpresa, Oanna comentou:
_Vejo que está descobrindo coisas sem minha ajuda...
Nada respondi, apenas permaneci ao centro da sala, esperando o ataque dos cavaleiros. O primeiro a se lançar sobre mim foi Theodor. Afastei seu golpe com a mão esquerda, enquanto a adaga direita já continha o corte longitudinal que Victor disferia. Uma sucessão de golpes violentos se seguiram e eu os aparei todos, fazendo as lâminas cuspirem fogo. Para espanto dos dois cavaleiros, eu rodopiava diante deles, afastando seus golpes como se houvesse uma parede invisível à minha volta. Atordoados, pararam para tomar fôlego.
Encarei-os com os olhos baixos, como um felino pronto para atacar. Uma adaga em riste em cada mão. Sem que Victor esperasse, atirei minha adaga esquerda direto em seu coração. Seu reflexo foi rápido o suficiente apenas para que afastasse o corpo, deixando a adaga se cravar na parede. A lâmina, porém, ainda rasgou sua camisa e cortou-lhe levemente o peito. Por seu turno, Theodor não pensou duas vezes, golpeou rápido em direção ao meu pescoço. O teria decepado, se eu não me abaixasse e, logo em seguida, rodopiasse e lhe desferisse um golpe com o pé, na boca do estômago. Esta foi sua sorte, pois se atingisse seus testículos, seria _finalmente! _um morto. Eu aproveitaria seu atordoamento e enterraria minha adaga em seu pescoço.
Victor por sua vez, com um olhar cheio de ira, chamou a adaga cravada na parede para sua mão esquerda. Ela obedeceu e ele não exitou em atirá-la no rumo de meu peito. Teria se cravado em meu coração se, num movimento rápido, não me afastasse e ela fosse se fixar na parede atrás de mim. A lâmina, porém, ainda chegou a abrir meu corpete, produzindo um generoso decote. Meus seios, no entanto, não foram feridos. Aproveitando o movimento giratório, para me afastar da adaga, projetei-me _feito um aríete _sobre a barriga de Victor. Empurrei-o rumo à parede e ele caiu sobre uma armadura, que fez grande estardalhaço ao espatifar-se no chão.
Pulei então sobre ele, pressionando a boca de seu estômago com o joelho. A adaga na mão direita, pronta para cortar-lhe a garganta. Theodor se lançou então de espada em punho, pronto para me cortar a cabeça. Porém, antes que se aproximasse mais, chamei a outra adaga para minha mão esquerda. Ela chegou em minhas mãos a tempo de frear Theodor, que estacou tão logo sentiu a ponta fria da lâmina pressionar seu pomo de adão. Ficamos então parados ali, naquele dilema, eu de braços abertos pronta para cortar as gargantas de meus oponentes e eles tendo de escolher entre continuar seu ataque, ou deixar eternamente de falar. Ciêntes de minha agilidade, exitavam em se lançar no contra-ataque. Foi quando as palmas de Oanna concluíram o treinamento.
_Chega! Por hoje basta!...
Theodor se afastou, tirei a ponta da adaga da garganta de Victor e calmamente me recompus. O treino havia acabado.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ARTE






















Eu e Oanna descemos e fomos para uma sala que eu desconhecia. Lá havia mosquetes, pistolas, espadas e adagas penduradas na parede, lanças, machados, enfim toda sorte de armas. Era seu armazem. Ela pegou uma espada e jogou-me outra. Peguei-a no ar com facilidade, o que de certa forma me impressionou, pois não sabia que estava com reflexos tão bons. Já consciênte de tudo o que se passava comigo, Oanna já foi me instruindo:
_Nós temos não apenas mais força que os mortais, mas reflexos mais rápidos. Espero que sabia usá-los, pois vou lhe atacar sem piedade...
Empunhei a espada como resposta. Ela começou golpeando enganosamente, fingindo dar um corte lateral, para, em seguida, dar um grande salto, rodopiar no ar e descer projetando a espada direto entre meu obro e o pescoço, o que faria a lámina enterrar-se até meu coração. Afastei-me rápida, girando para a direita e deixei ela cair, cravando a espada no chão. Então, rodopiei e cortei o ar. O corte deceparia o pescoço de Oanna, se ela não se abaixasse imadiatamente. Ela então desencravou a espada do chão e tentou rasguar-me as tripas, num corte lateral ascendente, mas eu já rodopiava para trás dela, projetando a espada, com força, para atravessar seu coração pelas costas. Ela girou e fugiu de minha lâmina, cuja ponta cravou-se no chão de pedra, faiscando.
Oanna veio então por trás, girando a espada sem piedade, para cortar-me a cabeça. Sabendo não poder tirar a espada encravada na pedra imediatamente, abaixei-me e empurrei-a com um chute no ventre. Ela caiu de costas no chão. Com os dois pés, chutou o ar e ergue-se num pulo. Eu sabia que ela iria me afastar daquela forma, se estivesse com a espada sobre ela. Mas eu estava mais distante, desencravando minha espada. Ganhei tempo e me armei. Quando se ergueu, ela já me encontrou já de espada em riste, pronta para recebê-la.
Pôs-se em posição de combate, já com os olhos vidrados, mostrando as presas, como uma leoa furiosa! Seu olhar deixava claro que ela não exitaria em me matar. Mostrei então minhas presas, deixando claro que também não temeria em fazer o mesmo com ela. Nossas espadas se bateram no ar. Golpeamos uma contra outra sem piedade. Ela se mantinha estrategicamente de costas para a parede onde havia as armas. Ataquei-a então impiedosamente, para forçar minha aproximação em direção à parede. Ela notou, obviamente, e me deu um chute na boca do estômago, no momento em que erguia a espada. Encolhi-me com dor e sem ar, ela projetou a espada direto em minhas costas. Mas esta apenas cravou-se no chão. Cai rapidamente para a esquerda, rolei e tomei uma boa distância, indo para a parede. Atirei então a espada em sua direção, como se fosse uma mera faca. Ela rodopiou, cortando o ar, e teria partido o crânio de Oanna em dois, se ela não a jogasse para o lado com um golpe rápido. Arrancara sua espada do solo bem a tempo.
Antes que ela pudesse me pegar desarmada, dei um grande salto em direção à parede oposta, onde pendiam as armas. Agora Oanna tinha motivos para se preocupar... tomei duas adagas em minhas mãos! Minha arte secreta! Ao ver-me empunhando duas adagas, Oanna parou, em postura de combate. Tinha plena consciência que aquela devia ser uma arte que eu dominava. Tomando coragem, se lançou contra mim. Rodopiou e cortou o ar. Minha adaga esquerda aparou sua lâmina rapidamente. Rodopiei no mesmo sentido do golpe, projetei-me para trás dela, e perfurei o ar com a adaga direita. A teria enterrado toda em seu coração, se ela não desse uma cambalhota rápida para frente, erguendo-se logo em seguida, em posição de combate. Minha adaga, porém, ainda foi rápida o suficiênte para rasgar-lhe o vestido, entre as pernas. Teria rasgado a carne de uma de suas coxas, se ela não tivesse aberto as pernas estrategicamente.
Oanna encarava-me com os dente rilhados, ofegante, os olhos faiscando!... Com uma adaga em cada mão, movia-as rapidamente, como se fossem lâminas de uma máquina rotativa. Encarava Oanna pronta para matá-la!... Mas ela foi sábia, baixou sua espada e disse:
_Vejo que foi bem treinada por seu pai.
Não lhe respondi nada, apenas me mantive em minha postura, ainda esperando por sua reação. Para mostrar-me que se rendera, jogou a espada no chão. Em seguida prometeu:
_Amanhã trarei dois de meus melhores homens para treinar com você. Não serei tola em lhe enfrentar da forma errada.

domingo, 11 de setembro de 2011

A VOLTA DA ESPADA



























No dia seguinte, não quis saber de meios termos com Oanna:
_Então Dimitru é seu espião, não é?
Sentada à mesa, comendo, ela calmamente respondeu:
_Ouvindo atrás das portas?
_Tenho motivos para isso, não esperava encontrar Dimitru aqui. Principalmente não esperava que ele e você fossem tão íntimos.
_Sim, somos. Fui eu quem o lançou na maldição.
_Então é você! A nobre de quem ele falou! _surpreendi-me.
_Sim, e não fiz a ele mais que um favor. Dimitru não passava de um bardo bêbado, que estava prestes a morrer tísico. Porém, gostei muito de sua música e precisava de alguém que conhecesse cada recanto desta região. Sua morte seria um desperdício.
_Mas ele... Ele me disse que a vampira que o amaldiçoou...
_Morreu na mão dos ciganos! _cortou-me ela. _Sim, ele criou esta estória. E fez muito bem! E digo a você que eu o mataria pessoalmente se ele revelasse minha natureza a alguém! Mesmo a outro vampiro!
Perplexa com tudo aquilo, provoquei:
_E quem, ou o que é você? O que quer controlando...
_Vampiros?!... _cortou-me novamente _Controlando mortos-vivos?!... Viver! Viver novamente! Viver com honra! Com dignidade! Como sempre vivi! Sou uma nobre! Jamais abandonarei o meu feudo! A minha casa!... Nem que meu exército seja feito de vampiros! De amaldiçoados mortos-vivos como eu!...
Calei-me. Tudo então estava muito claro. Ela então prosseguiu:
_Dimitru não foi o primeiro vampiro a quem arregimentei. Antes dele, conheci Ion e muitos outros. E quem eram os vampiros? Os tenebrosos vampiros! Rah! _zombou _Um bando de semi-mortos famintos! Frágeis! Que temiam a claridade e morriam na mão de pastores! Pastores!!!...
Pôs então as mãos sobre a cabeça, balançou-a negativamente e abriu um sorriso decepcionado. Jogou então as mãos sobre as coxas e continuou:
_Mas que tinham poderes extraordinários! Poderes desconhecidos... Mesmo para eles mesmos... Poderes que "eu!" _apontou para o peito _poderia usar! Poderes que eu poderia ensinar!... Como estou ensinando a você!... _concluiu apontando para mim.
Mantive meu silêncio. Ela continuou seu desabafo:
_Quer saber como amaldiçoei Dimitru? Vou lhe contar! Foi fácil! Simplesmente o embebedei, fingi querer seduzi-lo e o mordi... Simples assim! E confesso que foi horrível! Não há nada pior que o gosto do sangue de um bêbado! Isso foi há 90 anos, durante a festa que realizei para comemorar a morte de Drácula. Que festa maravilhosa! _riu com desdém.
_Não me interessam suas festas! _desdenhei _Minha família está em perigo e eu estou aqui, aprisonada neste seu bordéu, sem fazer nada!
_E o que pretende fazer?! Ir se unir à sua família, revelar que é uma vampira?!
_Não preciso revelar que sou vampira, basta dizer que fugi do castelo de meu tio! _rebati.
_Sim e vai dizer que foi para onde este temo todo, se esconder no Cheile, feito um bicho?!
_Posso dizer que fugi para cá!
_Sim, para os braços da condessa lesbiana! _gargalhou em seguida _Para ser mais uma de suas meretrizes! Oh, o que será que vão pensar da filha do marquês de Somlyó?! Então é este o dote das filhas da honrada nação székely?
_Cale a boca!!!... _descontrolei-me.
_Cale a boca você! _rosnou Oanna. _Deixe de ser uma menina idiota! Todo meu esforço até agora foi de lhe proteger do pior. Quer mesmo ser difamada?! Pior! Morrer com uma estaca no peito?!...
_Não posso ficar aqui parada, acovardada!... _rebati furiosa, com lágrimas nos olhos.
_Não quero que seja acovarde!... _vociferou Oanna.
Em seguida, parou um instante, fechou os olhos, respirou fundo, acalmou-se e propôs:
_Se aceitar minha orientação, poderá agir contra os inimigos de sua família... da forma correta.
_E por que me ajudaria? Até agora seu único interesse em mim foi meu corpo! _respondi com lágrimas nos olhos.
_Talvez, Irina... Talvez!... Porém, você deve considerar que não tem outra alternativa, senão aceitar minha ajuda. Desconfie você dela, ou não!...
Solucei cheia de raiva. Mas enxuguei os olhos e inquiri:
_E o que vai fazer, por seu exército de vampiros contra os soldados de conde Vladmir?
_Também!... Mas não de forma frontal! Isso seria um erro! E sim por escaramuças. Fora isso, posso treinar você. Penso que esteja enferrujada na espada, sei que seu pai lhe treinou. _persuadiu.
_Você sabe lutar espada?... _investiguei.
_Sim, comecei a aprender para combater Drácula. De lá para cá... evolui muito. _gabou-se.
_Quando podemos começar?
_Hoje mesmo, chamo meus melhores homens e vamos para meu salão de treinamento.
_Quero agora! _apressei-me.
_Pois que assim seja! _arrematou Oanna.