Não sei ao certo se Oanna queria me treinar, ou me matar. Ela não chamou mortais para lutar comigo, chamou dois de seus cavaleiros vampiros. Eu não os conhecia. Eles não eram grotescos como Ion e os outros, eram até bonitos, mas... terrivelmente letais!... Quando entrei, ambos já me aguardavam, um em cada lado dela.
_Este é Theodor, Irina. Este é Victor!... _apresentou-os.
Theodor aparentava ter seus 33 anos, era magro, porém de músculos rijos. Seu cabelo era curto e já trazia fios grisalhos. Sua expressão era dura, algo amarga. Victor aparentava ser bem jovem, não ostentando mais que vinte anos. Tinha cabelos castanhos e lisos, longos até o pescoço. Seu rosto de menino era algo feminino, mas seu olhar cortante mostrava o anjo da morte que trazia dentro de si. Era excelente com a adaga. Oanna o trouxera de encomenda para mim.
Aproximei-me educadamente, parando à cerca de dez pés de distância dos dois. Seus olhos atentos seguiam cada movimento meu. Eu era uma fera que eles deveriam domar... ou matar! Fiquei parada diante deles, vendo-os acariciarem o cabo de suas espadas. Eles esperavam, certamente, que eu desembainhasse uma espada, ou adaga escondida atrás de minha capa, mas os surpreendi... e surpreendi Oanna também. Gentilmente juntei minhas mãos sobre o colo e... logo em seguida abri rapidamente os braços, com as palmas das mãos abertas! Duas adagas que se encontravam repousadas sobre cabides, nas paredes, voaram até mim. Agarrei-as, uma em cada mão, com firmeza!
Os dois cavaleiros desembainharam suas espadas e se puseram em posição de combate. Surpresa, Oanna comentou:
_Vejo que está descobrindo coisas sem minha ajuda...
Nada respondi, apenas permaneci ao centro da sala, esperando o ataque dos cavaleiros. O primeiro a se lançar sobre mim foi Theodor. Afastei seu golpe com a mão esquerda, enquanto a adaga direita já continha o corte longitudinal que Victor disferia. Uma sucessão de golpes violentos se seguiram e eu os aparei todos, fazendo as lâminas cuspirem fogo. Para espanto dos dois cavaleiros, eu rodopiava diante deles, afastando seus golpes como se houvesse uma parede invisível à minha volta. Atordoados, pararam para tomar fôlego.
Encarei-os com os olhos baixos, como um felino pronto para atacar. Uma adaga em riste em cada mão. Sem que Victor esperasse, atirei minha adaga esquerda direto em seu coração. Seu reflexo foi rápido o suficiente apenas para que afastasse o corpo, deixando a adaga se cravar na parede. A lâmina, porém, ainda rasgou sua camisa e cortou-lhe levemente o peito. Por seu turno, Theodor não pensou duas vezes, golpeou rápido em direção ao meu pescoço. O teria decepado, se eu não me abaixasse e, logo em seguida, rodopiasse e lhe desferisse um golpe com o pé, na boca do estômago. Esta foi sua sorte, pois se atingisse seus testículos, seria _finalmente! _um morto. Eu aproveitaria seu atordoamento e enterraria minha adaga em seu pescoço.
Victor por sua vez, com um olhar cheio de ira, chamou a adaga cravada na parede para sua mão esquerda. Ela obedeceu e ele não exitou em atirá-la no rumo de meu peito. Teria se cravado em meu coração se, num movimento rápido, não me afastasse e ela fosse se fixar na parede atrás de mim. A lâmina, porém, ainda chegou a abrir meu corpete, produzindo um generoso decote. Meus seios, no entanto, não foram feridos. Aproveitando o movimento giratório, para me afastar da adaga, projetei-me _feito um aríete _sobre a barriga de Victor. Empurrei-o rumo à parede e ele caiu sobre uma armadura, que fez grande estardalhaço ao espatifar-se no chão.
Pulei então sobre ele, pressionando a boca de seu estômago com o joelho. A adaga na mão direita, pronta para cortar-lhe a garganta. Theodor se lançou então de espada em punho, pronto para me cortar a cabeça. Porém, antes que se aproximasse mais, chamei a outra adaga para minha mão esquerda. Ela chegou em minhas mãos a tempo de frear Theodor, que estacou tão logo sentiu a ponta fria da lâmina pressionar seu pomo de adão. Ficamos então parados ali, naquele dilema, eu de braços abertos pronta para cortar as gargantas de meus oponentes e eles tendo de escolher entre continuar seu ataque, ou deixar eternamente de falar. Ciêntes de minha agilidade, exitavam em se lançar no contra-ataque. Foi quando as palmas de Oanna concluíram o treinamento.
_Chega! Por hoje basta!...
Theodor se afastou, tirei a ponta da adaga da garganta de Victor e calmamente me recompus. O treino havia acabado.