sábado, 24 de dezembro de 2011

DESESPERO




A despeito de meus desejos, meu retorno não foi tranquilo. Um inesperado encontro no Hades não inquietou meu coração: à beira de um lindo riacho azul, Oanna estava à minha espera.
_O que foi, por que está aqui? _preocupei-me.
_Sua belíssima estratégia deve ter ajudado muito a seus irmãos e ao seu amado povo székely, mas acabou por trazer perigo a mim e à sua amada amiga grega.
_O que?!...
_Como você revelou sua natureza vampírica, exatamente agora, um batalhão de soldados, está vindo para Brasov. Foram enviados por conde Vladmir e estão sendo liderados pelo antigo capitão de seu pai. Todos trazem colares de alho no pescoço, pois seu objetivo é exterminar todos os vampiros conhecidos, entre eles, Dimitru e sua amada Calidora. Além de mim, é claro.
_Não!... _reagi desesperada.
Oanna continuou:
_Tive uma visão, posso mostrá-la para você.
Oanna então fechou os olhos e eu fechei os meus. Em minha mente, vi Traian conversando com seus oficiais:
_Ora, se nossos inimigos são vampiros, vamos combatê-los com as armas certas! _postulava.
Logo a seguir vi uma tropa, de cerca de uma centena homens, colocando cordões com crucifixos e colares de alho ao pescoço e se preparando para partir. Levavam ainda uma imensa cruz improvisada, feita de duas ripas de madeira cruzadas e amarradas ao centro. Um ministro luterano os abençoava, jogando-lhes água benta. Depois disso, abençoava os curcifixos, assim como a grande cruz tosca. Em sacolas nas costas, levavam longas e pontiagudas estacas de madeira. Só os oficiais e Traian iam a cavalo, toda a tropa seguia a pé. Temiam que acontecesse o que acontecera com as tropas anteriores. Oanna então interrompeu a visão e concluiu:
_Eis o que você conseguiu. Espero que Dimitru seja esperto. Confesso que sentirei sua falta, no caso do pior. Já no que diz respeito à sua amiga grega... não vejo o que possa fazer, até porque ela sequer aceitaria conversar comigo. Penso então em mim mesma e lhe digo que já estou me preparando para receber estes inesperados visitantes.
_Eu voltarei para Brasov, imediatamente, eu farei algo! _prometi desesperada.
_Acho bom! Até porque esta tropa já começou sua ação nefasta. Agora, se me permite, voltarei ao meu quarto. Adeus, Irina! Espero que chegue a tempo.
Ela se foi e, com a rapidez do despertar, me vi de volta ao carroção. Ergui-me desesperada, o crepúsculo se anunciava. O que ia fazer?!... Como não conseguisse refletir com serenidade, pulei sobre as costas de Ivan, que dirigia o carroção, e comecei a chorar.
_Calma! _disse ele me acariciando os cabelos. _Não pense que tudo está só em suas mãos. Seus amigos não são tolos, calma.
Com os olhos banhados de lágrimas, perguntei para ele:
_O que devo fazer? O que devo fazer?!...
Tranquilo, ele respondeu:
_Visualizei seu sonho. Falta pouco para chegarmos no acampamento de seus companheiros. Lembre, ao chegar em Brasov, vá direto para o castelo de Oanna. Apenas lá poderá agir.
Continuei chorando e desabafei:
_Tenho medo, Ivan! Tenho medo! Não quero perder Calidora!
_Calma, menina, calma! Confie em seu coração.
Não compreendi o que ele quis dizer com isso, apenas beijei seu ombro e continuei a chorar. Seguindo rumo ao acampamento, o carroção chacoalhava.