terça-feira, 17 de janeiro de 2012

OSSOS




Chegamos de volta ao acampamento de meus companheiros após menos de um dia de viagem. Ivan deu a eles alguns mantimentos e depois abraçou-me e repetiu:
_Não esqueça o que lhe disse, confie em seu coração!
O abrecei e beijei. Em seguida, parti com meus companheiros. Seguimos a todo galope através do Cheile. Não consegui atender ao pedido de Ivan. Ao invés de irmos direto para o castelo de Oanna, nosso primeiro destino foi um só: a gruta de Calidora. Adentramos a floresta ao início da noite. Quando já estávamos a meio caminho da gruta, porém, meu coração apertou. Havia algo parecido com corpos na estrada. Parei e saltei imediatamente. Para minha inquietação, eram realmente corpos. Haviam sido cremados e estavam reduzidos a ossos calcinados. Olhei-os com atenção. Um esqueleto maior, ao lado de dois menores, visivelmente de crianças. Um deles, era bem pequeno. As lágrimas vieram imeditamente aos meus olhos. Não podia ser! Gritei:
_Aaaaaaaaaaaaaahhh!!!...
Preocupados, Ciprian e Florin desapearam e correram imediatamente até mim. Sem controle, eu chorava compulsivamente. Florin me dava forças:
_Calma, marquesa, calma! Lembre do que disse o cigano!
Eu não conseguia raciocinar, estava fora de mim. Apenas chorava e gritava. Gritava sem parar. Vendo meu estado, Florin me apertou em seus braços, me beijou o rosto e me levou de volta à Agathon. Com as palavras certas, ele ainda me devolveu certa lucidez:
_Marquesa, escute! Vamos até a caverna dela. Temos de ter uma confirmação!
Suas palavras reacederam a esperança em meu coração e foi isto que me deu forças para montar e seguir. Porém, ao chegarmos na gruta de Calidora, a encontramos abandonada. Suas coisas ainda estavam lá, mas não havia nenhum sinal dela, ou das crianças. Chamando-a, procurei por todos os cantos, até mesmo no lago da gruta, onde mergulhei até os joelhos.
_Calidora! Calidora! Dácio! Eni!...
Meu chamado, porém, era em vão. Minhas narinas sentiam a fragância de rosas, ainda forte no ar, mas não havia o menor sinal dela, ou das crianças. Minha mente ficou confusa. Pude sentir o vago calor que os vampiros deixam no ar. Algo que só liberam quando estão bem alimentados. Num lampejo de razão, chamei por meus companheiros:
_Ioan! Florin!
Eles vieram prontamente e, demonstrando sua forte ligação comigo, responderam sem que eu perguntasse:
_Não a encontramos, marquesa! Não está em nenhum lugar!
Comecei a soluçar. Sem mais esperar, sai do lago e rumei para fora. Meus homens me seguiram. Montamos os cavalos e voltamos até os esqueletos. Desapeei e os analisei novamente. As cinzas ainda estavam levemente mornas. Tentei detectar o perfume de Calidora, mas apenas senti cheiro de carne queimada e uma outra frangância estranha. Observei que eles não estavam decapitados. Porém, todos apresentavam costelas quebradas próximas ao coração. Minhas esperanças se desvaneceram... Notei, por fim, que o esqueleto adulto trazia um furo de bala ao alto da testa. Não o havia notado antes. Diante de tais evidências, baixei a cabeça e chorei com amargura. Despertei ao sentir uma mão forte segurar meu braço, era Florin:
_Vamos, marquesa! Não é seguro ficarmos aqui!
Sem contestar, enxuguei as lágrimas e fui com ele. Montei então em Agathon e seguimos adiante.