Foi divertido ver Mika se transformar num cigano. Dois ciganos velhos, um alto, magro e de barba branca, mais um baixote que só usava grandes bigodes o ajudaram. O último retoque foi guardar o punhal na faixa, à cintura. De fato ele ficou muito diferente, a barba e os cabelos mais longos ajudavam muito a disfarçá-lo. Oanna deu um bom suprimento de armas e comida aos ciganos. O suficiente para encher os dois carroções que lá estavam.
Na hora da despedida, uma pequeno incidente se deu. Cheguei próximo ao carroção que levaria Mika e meu olhar recaiu sobre seu dono: o mesmo cigano que atirara em mim, quando estivera no Cheile! Ele me reconheceu, fitando-me bem, enquanto embarcava, junto com outro jovem cigano, a grande arca que continha minhas roupas. Sua esposa também estava lá, sentada na carroça, pedindo em sua língua para o marido se apressar. De repente, de lá de dentro surgiu outro rosto conhecido: Mathuanka!... Estava mais crescida, aparentando seus sete anos. Sua fisionomia agora já se moldava aquela mistura entre o meigo e o rude, que tanto caracteriza as crianças ciganas. Ela também fixou seu olhar sobre mim. Sua mãe foi a última a me reconhecer. Espantou-se, fez menção de gritar, mas tapou a boca com as mãos.
A tensão, no entanto, foi quebrada por Mihail, que logo surgiu falando em romeno com o dono da carroça:
_Podemos partir, levarei apenas esta bolsa comigo!
_Sim... sim, senhor! _respondeu o cigano, cheio de sotaque, como que despertando de um cochilo.
Com tudo pronto, Mika voltou-se para e nos abraçamos. O beijei ternamente no rosto e, com seu rosto entre minhas mãos, prometi:
_Logo estarei novamente com você. Não vou abandonar você, nunca!...
_Eu sei... _respondeu ele e logo depois me abraçou com força.
Não pude deixar de verter lágrimas ao ver o carroção se afastar. Porém, meu choro foi interrompido pelo chamado de Oanna:
_Irina! _chamou da porta, com um aceno de mão, ordenando-me que entrasse.
Chegara a hora de me preparar para minha partida. Levaria apenas um vestido simples e uma capa, além de uma bolsa contendo alimentos para, no máximo, dois dias. Saímos à noite. Oanna disse às criadas que iria me acompanhar até outro grupo de ciganos, escondidos na floresta. Partimos à cavalo. Na verdade, fomos ao ramal onde encontramos Ion pela primeira vez. Ele já nos aguardava. Estava com seus três monstruosos companheiros, Anton, Fiodor e Rudolf. Aghaton relinchou e recuou assustado quando os viu. Tive de acalmá-lo:
_Calma, Aghaton! Calma, meu menino.
O acariciei no pescoço e no rosto, o que de certa forma o encantava, deixando-o sobre o meu controle. Oanna então olhou para mim e foi seca:
_Vá!... Você não tem tempo a perder.
Não lhe respondi nada, apenas a fitei e galopei rumo aos outros vampiros. Calmamente começamos nossa viagem, mergulhando na escuridão. Vez ou outra, eu olhava para trás. Oanna permanecia parada, vendo nos distanciarmos dela. Em determinado momento, virou-se com o cavalo e se foi de volta para o castelo, sem olhar para trás.