domingo, 31 de julho de 2011

VOAR






















A primeira lição de Oanna foi simples:
_Já experimentou andar fora do corpo, aqui no mundo dos vivos, Irina?
_E isto é possível? Que eu saiba, somos vampiras e não fantasmas. _desdenhei.
_Somos meio fantasmas, querida. _rebateu ela.
Ri levemente em resposta.
_Veja, vou me deitar no divã e adormecer. Não tire os olhos de mim, até eu lhe chamar.
_Sim.
A vi deitar e fechar os olhos. Não demorou a expirar. Vendo-a ali, praticamente morta, aproximei-me e balancei seu corpo. Sim, estava sem vida. Cheguei a festejar em meu coração, porém, não tardei a ouvir sua voz novamente:
_Cedo demais para comemorar, querida.
Virei-me e a vi diante de mim. Sua imagem assustava. Ela estava de pé, sobre o chão, mas parecia não pisar nele. Sua imagem não produzia sombra e emanava uma ligeira luminosidade. Ela deslizou em minha direção e eu me afastei. Ela riu:
_Com medo, Irina?
_Ainda não o suficiente. _desafiei.
Ela riu levemente e convidou:
_Então saia de seu corpo também e vamos dar um passeio.
_E isto seria fácil, como tirar as roupas? _queixei-me.
_É simples. Quando expirar, volta sua lembrança para esta sala. Não se deixe levar para qualquer lugar.
_Tão fácil! _desdenhei.
_Tente. _desafiou ela.
Sentei então na cadeira ao lado do divã e relaxei. Tão logo a lassidão me tomou, senti que ia expirar. Fixei a imagem da sala em minha mente. Quando abri o olhos, estava de pé, diante de Oanna. Ela continuava luminescente, porém tudo à minha volta emanava esta estranha luminosidade. Olhei minhas mãos e elas também estavam luminosas. Oanna pediu:
_Venha até aqui.
Mal tive a intenção de mover os pés e simplesmente deslizei sobre o chão. Parecia mesmo que o chão era feito de manteiga. Oanna pegou minhas mãos e senti como se sua carne vibrasse suavemente.
_Que estranho! _admirei-me.
_Venha, querida! _convidou ela, pegando-me pela mão. _Vamos descer e passear um pouco.
Fomos em direção à porta e passamos por ela sem abrí-la, a atravessamos. Senti sua vibração específica, mas fraca que a das mãos de Oanna. Deslizamos escada abaixo e entramos na sala. Sanziana, Steliana e Dorotheea a arrumavam. Elas não demonstravam notar nossa presença. Passamos por elas transpassando seus corpos. Estes não nos bloqueavam, apenas emitiam uma vibração suave quando os atravessávamos. Os corpos de Sanziana e Steliana eram frios, passar por eles era como atravessar uma dispensa, ou masmorra. Já o de Dorotheea, a única que não era vampira, era como se fosse uma imensa chama de vela, mas que não queimava, apenas aquecia agradavelmente. Sua vibração era intensa, chegava a dar cócegas. Ri quando senti isso.
Atravessamos a porta e fomos para o pátio. Passamos pelos criados e pelo portão principal sem que nada nos detivesse. Era como se tudo fosse feito de vento. Avançamos em direção à floresta. Quando começamos a adentrá-la, Oanna parou, voltou-se para mim e perguntou:
_Já voou, Irina?
_Não. Nunca fui um pássaro. _respondi ainda um tanto malcriada.
Oanna riu de minha irritação. Em seguida instruiu:
_Basta fechar os olhos e... pensar ser um pássaro.
_Qual? _inquiri.
_O que preferir, querida. _respondeu.
Tão logo ela disse isso, veio-me a lembrança o primeiro pássaro que vi, após ser amaldiçoada: uma coruja branca. Fechei os olhos, abri os braços, senti o vento e... estava no ar!... Sim, estava pairando no céu quando abri os olhos. Via toda a vastidão da região onde morávamos e podia distinguir, do alto, os rios, lagos, os pastores com seus rebanhos, tudo!... O castelo estava um pouco atrás. Lindo! Branco, com seus belos telhados vermelhos. Olhei para imensa abóbada azul do céu, matizada de nuvens brancas. O vento era intenso, chegava a me gelar, mas o frio não me atormentava. Olhei para os lados e não vi minhas mãos, apenas as pontas de asas com penas brancas, salpicadas de pontos negros. Ouvi então a voz de Oanna, vindo de cima de mim:
_Gostando do voo?
_Onde está você? _indaguei inquieta.
Ela não respondeu, apenas vi um falcão surgindo à minha direita. Ele abriu seu bico e o riso de Oanna soou.
_Ahahahah!...

sábado, 30 de julho de 2011

MAGIA


Morgan Le Fay - Anthony Frederick Sandys.



Devo confessar que, da mesma maneira que aceitei me entregar aos ciganos, aceitei atender aos clientes de Oanna. Fui o presente de Liev naquela noite. Não sei o que é pior na maldição: a prostituição, o assassinato, ou a bestialidade. Talvez o inferno seja isso: a eterna condição de jamais viver com virtude. "Deixai aqui toda esperança, ó vós que entrais!", está escrito à porta do Inferno, na Comédia de Dante. Deixai aqui toda dignidade... talvez devesse estar escrito assim. Penso que o infiel Calvino possa estar certo, alguns nascem predestinados ao Céu, outros... ao Inferno.
Numa tarde de outono _numa tentativa de melhorar suas relações comigo _Oanna levou-me até uma parte do castelo que ainda não conhecia. Mostrou-me então o que parecia ser um imenso poço, selado com uma imensa tampa redonda, de madeira. Ela porém me explicou:
_Isto não é um poço, é uma cela, uma cela sem teto. Foi feita assim para que o prisioneiro que aqui estivesse penasse com o sol e a chuva, além do frio. Aqui esteve preso Drácula, antes de vencer e matar meu pai. Quando você chegou, esta cela estava aberta, por isso o espírito de Drácula encontrou você, pois é por aqui que ele entra neste castelo.
_Pelo visto, você não teme encontrá-lo... _conclui levemente malcriada.
_Eu tenho outras formas de bloqueá-lo. _rebateu ela prontamente. _Por ora, saiba apenas que enquanto esta sela estiver tampada, você estará segura. E eu lhe prometo, não mandarei tirá-la daí, enquanto não estiver pronta para construir suas próprias defesas, como eu.
_E quando isto acontecerá?
_Se quiser, posso começar a ensiná-la agora.
Respondi concedendo-lhe um leve sorriso. Ela então me levou para o porão. Lá, em um canto que mais parecia uma rude capela subterrânea, alguma coisa coberta por um roto pano nos aguardava, iluminada por cinco castiçais. Oanna aproximou-se da "coisa" e tirou o pano.
_O Diabo! _espantei-me.
_Não! Baphomet! Senhor da sabedoria oculta, cujos mistérios eram desvendados pelos antigos templários. _explicou.
Aproximei-me um tanto hesitante da estátua de mármore _com um temor injustificado para minha nova condição _e toquei-a. O primeiro detalhe que me chamou a atenção foram as inscrições solve e coagula, grafadas uma em cada braço. Oanna continuou:
_Minha casa pertence à ordem teutônica, que continuou a tradição dos templários, depois que a Igreja os traiu e dizimou. _disse respirando orgulho, enquanto acariciava a imagem.
_Ainda não entendo essas coisas... _confessei.
_Agora entenderá! _respondeu ela apertando levemente meu ombro, com um leve e honesto sorriso nos lábios.
A partir daquele dia, passou a me ensinar magia.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

CARONTE




















O sperma de Ciprian trouxe-me de volta à vida, o preço dele, porém, tinha de ser pago. À noite, Liev e seu séquito retornaram para um último festim. As criadas de Oanna eram em maior número do que eu imaginava. Além das que eu já conhecia, ainda havia mais quatro: Alexandra, que possuía um corpo esbelto, mas opulento nas pernas e quadris, e era de origem nobre, ostentando dois vivos olhos grandes, falsamente ingênuos; Cristina e Georgiana, duas típicas cortezãs romenas, de corpo opulento, olhos e cabelos castanhos e sorriso cheio de malícia; e por fim, Ilona, que era loira, magra e pálida, uma cortezã magiar, de Gyula. Todas vampiras! Oanna era realmente muito esperta, nada como um bordel com prostitutas que jamais cansariam de fornicar.
Desci à sala com um lindo vestido vermelho, mas parei ao pé da escada. Olhei para elas... ali, displicentemente sentadas a espera o gordo burguês, como boas prostitutas que eram. Só faltei vomitar fogo pela boca... Com um semblante feroz, corri até a sala ao lado. Irada, não parava de pensar: "_Uma reles prostituta!... Jamais!...".
Fiquei então ali, olhando pela janela um mar pinheiros no horizonte, ao cair da noite. Sentindo minha falta na sala, Oanna logo inquiriu quando me encontrou.
_Tentando romper o nosso trato?
Respondi sem olhar para ela, com outro questionamento:
_Como conseguiu montar este bordel amaldiçoado? Raptando mocinhas à beira das estradas, como fez comigo?
_Não, oferecendo trabalho e uma vida luxuosa à jovens cujo futuro seria envelhecerem perto de um fogareiro. Saiba que suas mães ficaram muito gratas comigo por isso... até o último dia de suas pobres vidas.
_Pobres coitadas!... _lamentei cheia de asco.
_Se acha melhor que elas, querida? _provocou.
_Certamente sou melhor do você, sua meretriz! _ofendi.
Oanna puxou-me então pelo braço, quase rasgando meu vestido, e começou em tom ríspido:
_Quero que saiba, sua marquezinha incestuosa!... que tudo o quanto lhe cerca não foi me dado de presente! Apesar de este castelo pertencer a meus ancestrais, tive de reconquistá-lo! Houve um tempo em que habitei as cavernas do Cheile, como você também fez miseravelmente um dia! Porém, depois de muito penar, aprendi que podia ganhar muito, se soubesse negociar com os ciganos. Os ajudei muito, seja limpando suas trilhas dos malfeitores, seja oferecendo meu corpo a eles. Confesso que sua amiguinha grega me serviu de exemplo para isso!...
_Vejo que conhece bem Calidora! _conclui puxando meu braço de suas garras.
_Sim. E digo a você que nunca covivemos em boa inteligência. Não podia ser diferente, éramos concorrentes. Porém, ela se dava melhor que eu naquele ambiênte. Por isso notei que deveria voltar ao meu devido lugar. Então, quando Drácula morreu na mão dos turcos, os ciganos me ajudaram a voltar para cá. Foram eles que me forneceram as primeiras mobílias decentes em muitos anos para este castelo.
_E quem a amaldiçoou? _investiguei.
_Fui amaldiçoada pelo último grande vampiro mestre que passou por esta região, Athanasius.
_Calidora mencionou-me seu nome uma vez.
_Não é de espantar, ele era grego, com ela!... Vieram do mesmo esterco!...
_E como veio parar aqui? _insisti.
_Chegou aqui antes mesmo dos romanos. Há quem diga que foi ele quem infestou esta região. Reza a lenda que era de Êfeso, que era um bruxo consumado e que se tornara vampiro para alcançar a imortalidade. Dizem que ele se deixou morder por uma lâmia ainda em sua terra, e que veio para cá quando já contava a idade de 300 anos.
_E o que o trouxe para cá? _quis saber.
_Os cristãos, ele fugiu dos cristãos. Dizem que o próprio Paulo o enxotou para o mar Egeu. Ele teria fugido para Creta, mas também encontrou cristãos por lá. Sendo assim, voltou ao continente. Andou pela Panônia, até chegar aqui, na antiga terra dos dácios. Estes, no entanto, tinham uma religião forte e o confinaram em uma caverna, fechada por imensa tampa de pedra. Com a chegada dos romanos, porém, ele foi libertado. O povo conta que os legionários retiraram a pedra, pois procuravam esconderijos rebeldes.
Oanna então parou um instante, olhou-se no espelho de mão, que sempre trazia consigo e vistoriou a maquiagem e o cabelo. Em seguida, prosseguiu:
_Durante mil anos ele esteve livre, se alimentando do sangue dos povos guerreiros que invadiram sussessivamente esta terra: os godos, os hunos, os ávaros, os gépidas... Hordas de tolos movidos pela ganância, tipo de gente que é o prato preferido dos vampiros. Sabe disso, não é, meu amor?!
Limitei-me a olhá-la, em silêncio. Ela continuou:
_As lendas populares contam como esta terra esteve impregnada de mortos vivos durante estes séculos de guerra. Foi só quando os magiares e seu povo székely se converteram à fé de Roma, e o rei István I aceitou a coroa das mãos do papa, que as coisas mudaram. O grande István começou a perseguir tudo o que não era cristão e Athanasius foi novamente encerrado em uma nova prisão. Sabe onde ela ficava?
_Onde? _perguntei como uma tola criança cuirosa.
_Bem aqui, onde hoje é este castelo.
Arregalei os olhos de supresa. Oanna continuou:
_Debaixo das masmorras, há catacumbas. Como são um espaço onde os antigos cristãos se refugiavam, possuem um imenso poder. Dizem que Athanasius perdeu os sentidos quando nelas adentrou, premido pelas hostes magiares. E continuaria seu sono eternamente, se Drácula e seus guardas imbecis não o libertassem, quando tomaram este castelo.
_Por que fizeram isso?
_Porque Drácula procurava esconderijos para armas. Ele transformou este castelo em um imenso depósito de armas. Ao se deparar com o corpo de Athanasius, simplesmente ordenou que o jogassem no rio Olt. Porém, já quando os soldados o conduziam, ele despertou e os atacou. Foi assim que uma nova geração de mortos vivos, da qual eu e você fazemos parte, começou.
_Ninguém o matou, ou confinou, desde então?
_Dizem que os turcos o expulsaram para a Rússia, invocando o grande Ala.
_E por que você se expôs a ele? _inquiri.
Oanna aproximou bem o seu rosto do meu e, olhando no fundo de meus olhos, respondeu:
_Porque o pai de Vlad, Dracul, matou meu pai... Depois, o próprio Vlad matou meus irmãos... em seguida meu marido... e por fim, matou meu filho... Meu único filho varão... Então eu decidi me matar, me jogando do alto das muralhas deste castelo. Fazia o mais horrível outono de toda minha vida. O mundo estava cinza, e só o que eu respirava era dor e desespero. Porém, no momento em que ia saltar, um homem coberto por um longo manto negro apareceu ao pé da muralha. Ele acenou para mim e me chamou com um gesto de mão. Conclui ser o Anjo da Morte e simplesmente joguei-me do alto, para cair em seus braços. Ele me segurou com firmeza, como se eu fosse uma criança. Não consegui ver seu rosto a princípio, pois estava meio oculto sob o manto. Quando me aproximei o suficiente, ele mostrou seu rosto pálido, de grandes olhos fundos, com pupilas vermelhas. Ele sorriu, mostrando longos dentes de lobo, e acariciou meu rosto com suas mãos geladas, de longas unhas. Era um ancião horrível, tão tenebroso que pensei ser Caronte. Quase não tinha cabelos, e os poucos que tinha, sobre a nuca, eram muito brancos. Suas alvas sobrancelhas se encrispavam. Ele então fechou meus olhos, marejados de lágrimas, com suas grandes mãos. Em seguida empurrou, delicadamente, minha cabeça para trás, pousando sua mão fria em minha testa. Meu pescoço estava à sua disposição... e ele não se demorou em desferir uma violenta dentada!... tão forte que fez o sangue subir por minha garganta e escorrer pelo canto de minha boca. Senti seu sabor ferroso...
Ele então calou-se por um momento. Em seguida olhou para mim com um semblante sombrio e confessou:
_Sabe por que procurei por você, Irina?
_Por que?...
_Porque não é a primeira vez que o "demônio branco" assola o Cheile Bicazului...
_O que quer dizer?
_Eu fui o primeiro "demônio branco"! Cem anos antes de você, eu assolei as trilhas do Cheile. Tornei-me uma besta tão grotesca que você sequer é capaz de imaginar... O que você vê hoje... é um verdadeiro anjo, comparado com o que já fui... Ainda lembro dos ossos que ficavam espelhados pela caverna em que eu habitava. Crânios, mandíbulas, costelas, fêmures... chupados até a medula! Tudo cheirando à morte. Parecia mesmo um açougue abandonado... ou um cemitério!... _zombou soltando um leve, dorido e sarcástico riso. Por fim, fitou-me com lágrimas grossas escorrendo dos olhos e concluiu:
_Eu já tinha me esquecido disso, Irina, até ouvir falar novamente no "demônio branco" e na "fada dos ciganos". Resolvi então ver para crer...
A fitei em silêncio, até ouvir Sanziana bater à porta:
_O senhor Liev acaba de chegar, condessa.
_Diga que já estou descendo! _respondeu Oanna com o rosto marejado e a maquiagem borrada.

terça-feira, 12 de julho de 2011

POTRO





















Sentei-me à mesa para comer o desjejum, Oanna estava sentada à minha espera. Minha cadeira fora posta ao lado da sua. Uma criada, que até então não conhecera, jovem como as outras, de pele bastante branca e cabelos e olhos negros, estava de pé ao seu lado. Tão logo sentei, ela já foi me servindo. Tão logo terminou, Oanna a agradeceu e dispensou:
_Obrigado, Simona, pode retornar à cozinha. Se precisar, chamarei.
_Pois não, senhora.
Comecei a tomar a sopa em silêncio. Oanna se limitou a saborear um taça de vinho. De repente, quando fui pegar um pedaço de pão, algo inesperado aconteceu. Senti uma leve tontura, acompanhada de uma sensação clara de fraqueza, como se estivesse convalescente de uma doença. Pus a mão sobre a testa e minha cabeça pesou. Oanna lançou um olhar censurador sobre mim e, com um sorriso sínico nos lábios, sentenciou:
_Não está se sentindo muito bem, não é, Irina?... Claro que não está. Lamento por você, mas é culpa sua, meu amor...
_Do que está falando? Eu posso adoecer? _indaguei meio zonza.
_Não como as outras pessoas. Mas... como elas, você pode ficar fraca... por falta de alimento.
Fechei os olhos revoltada com minha condição. Oanna continuou seu sermão:
_Você é uma vampira, Irina. O alimento normal pode lhe sustentar apenas em parte, você sabe disso. Exatamente agora, seu organismo precisa de sangue... ou de "leite"...
_Me dê leite de cabra... _clamei.
_Infelizmente não crio cabras, querida. Sempre pego leite com os aldeões e agora está muito tarde para isso, eles já estão dormindo _respondeu com ironia.
_Me deixe correr atrás de ladrões... _reagi, ainda que enfraquecida.
_Não temos ladrões por aqui, Irina. Minha guarda especial já pegou todos.
_Me deixe deitar com o cocheiro... _teimei.
_Não, Irina. Só compartilho meus criados varões com quem mostra... gratidão. E você não se mostrou disposta a retribuir a ajuda que estou lhe dando.
_Vou atacar sua criada grandalhona... _ameacei.
Como resposta, a porta da sala fechou sozinha, batendo com força. Oanna começava a mostrar seus poderes. Com um olhar arrogante e desafiador, continuou, com seu tom calmo e pedante:
_Você não fará mal à minha criada, nem a meus cavalos, nem ao povo que habita minhas terras. E aviso que lhe matarei se fizer isso.
Olhei para ela, enfurecida, porém fraca e cada vez mais zonza. Sua imagem começava a esfumaçar-se. Ela continuou:
_Você não tem mais forças para reagir, Irina, logo desfalecerá. Se isso acontecer, mandarei Dorotheea pôr você na cama... com uma linda rosa silvestre entre seus belos seios. _disse puxando o decote de minha camisola com seu indicador e soltando um leve riso.
_Seria lindo, não acha? _continou. _Teria você como uma boneca, só para mim! _riu levemente _E a acordaria... apenas quando desejasse...
Furiosa, arranhava a madeira da mesa, enquanto tentava manter a consciência desperta. Irredutível, balbuciei um insulto:
_Sua... cafetina... ordinária...
_Insultar-me de nada adiantará, Irina. _rebateu. _Porém, se for uma boa menina...
Neste momento, ela parou de falar, olhou em direção à porta e estalou os dedos.
_Ciprian! _chamou.
A porta então se abriu e adentrou à sala um belo jovem, baixo e forte. Ele se aproximou dela, claramente encantando. Ela se levantou, o acariciou atrás da nuca e concluiu:
_Terá este meu belo cavalariço entre as pernas...
Ela então assentiu a ele, levemente, com a cabeça e ele abriu as calças, pondo para fora um membro de bom dote.
_Veja, Irina... como é grande e grosso... e cheio de leite... o falo deste potro. _provocou ela, pegando e esfolando o membro do cavalariço, que se mantinha alucinado por seu encantamento. Continuei resistindo, olhando furiosa para ela, com os dentes rilhados. Ela intensificou sua provocação. Abaixou-se, tirou os colhões do cavalariço para fora das calças. Colheu-os com sua mão de longas unhas, acariciando-os. Em seguida, massageou seu membro, masturbando-o. Sorriu então sordidamente para mim e engoliu o falo, quase até a base. Felou-o com os olhos fechados e as bochechas chupadas, demonstrando intensa volúpia. Depois parou e voltou a provocar:
_Hummm... pude até sentir um pouco do sabor do leite... Como é doce... e quente...
Enfraquecida, me rendi.
_Está bem... sua... cafetina... Fico ao seu... serviço... até poder... matar você...
Ela riu levianamente e respondeu:
_Que assim seja, querida!...
Ergue-se então e assentiu para Ciprian. Este veio até mim e, com seus fortes braços, ergueu-me como a um trapo e jogou-me sobre a mesa. Sem nenhum pudor, levantou minha camisola até acima dos seios, abriu-me as pernas e penetrou-me. Senti seu aríete invandir-me dolorosamente a carne. Mas uma onda de calor logo apaziguou meu sofrimento.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

SÁTIROS E NINFAS





















Arthur Fisher - Sátiro e Ninfa.



Contrariando totalmente ao desejo de Oanna, não desci. Fechei-me em meu quarto e lá permaneci, pensando em algum outro lugar para onde pudesse ir e ficar segura. Não fugiria do castelo, ao contrário, enfrentaria Oanna. Manteria minha vontade a qualquer preço. Não tinha medo de morrer e seria capaz me tornar a pior das feras, destruindo e matando tudo à minha volta. Irada, chorava e maquinava desgraças. De repente, ouvi três batidas na porta, em seguida, ela se abriu e surgiu Dorotheea.
_A senhora ordenou que você descesse comigo imediatamente. _disse em tom educado, porém seco.
Rosnei em resposta, mirando a corpulenta criada com o canto dos olhos. Ela se assustou e simplesmente fechou a porta. Ouvi seus passos apressados se afastando pelo corredor. Pouco me importava se ele notasse que era uma vampira ou não, eu estava disposta a tudo. Aguardei por Oanna, pronta para pular em seu pescoço, numa luta de vida ou morte. Durante toda noite, até a madrugada, esperei a porta se abrir e o embate acontecer... mas ele não aconteceu.
Pensei então em simplesmente descer e ir embora. Se Oanna tentasse me deter, eu a mataria. Logo ao passar pelo corredor, pude ouvir risos na sala de banho. Aproximei-me e olhei, com cuidado, para dentro. Tratava-se uma pequena orgia entre dois guardas de Liev e duas criadas de Oanna. Isso não me surpreenderia, não fosse o fato de flagrar a meiga Sanziana nua, molhada, deitada sobre as pernas de um dos guardas, que também estava nu. Ele a segurava e ela ria desavergonhadamente, falando bobagens, tentando pegar um cacho de uvas, que ele matinha propositalmente fora de seu alcance, ora aproximando, ora afastando, como uma isca. Catalina segurava uma das coxas de Sanziana e, com a outra mão, bulinava seu sexo, dando vazão aos seus instintos lesbianos. Deitado ao chão, outro guarda a agarrava por trás. Pareciam mesmo sátiros e ninfas em plena libertinagem num bosque qualquer da Grécia, ou de Roma. Ao contemplar a cena, pensei irritada: "Logo vejo que estou em um bordel!".
A manhã raiou e somente ao meio dia ela bateu em minha porta. Não respondi, apenas a aguardei entrar. Educadamente ela entrou e ficou de pé, olhando para mim, em silêncio. Não olhei em sua direção, apenas esperei seu ataque, ou seu insulto. Já estava pronta para despedaçá-la. Ficamos nesta tensa imobilidade por arrastados minutos, até que ela por fim falou:
_Está disposta à tudo, não é, Irina?...
Rugi levemente de volta, rilhando as presas e mirando-a com os cantos dos olhos, já vermelhos. Ela ainda permaneceu ali parada por um tempo, mas percebendo a inutilidade de qualquer argumento, saiu sem dizer uma palavra, batendo a porta. Ela sabia que não estava lidando com uma reles adolescente. Trancar-me no quarto, como faria uma mãe autoritária, seria selar a própria sentença de morte. Tinha plena consciência de que eu tinha força para espedaçar a porta e ir ao seu encalço. Quando finalmente constatei que ela não retornaria tão cedo, tirei o vestido e pus a camisola. Prentendia descansar, mas não consegui. Quando ouvi novamente ouvi batidas na porta, elas eram leves e cuidadosas. Sem esperar por resposta, a porta se abriu e ouvi a voz quase sussurrante de Steliana:
_Sua refeição, marquesa.
Eu nada respondi. Ela então entrou silenciosa, pôs a bandeja sobre a pequena mesa e saiu, fechando a porta cuidadosamente. Olhei para a bandeja e vi um belo leitão fatiado à minha espera. Ao seu lado, uma jarra com vinho e um copo. Como uma criança emburrada que retorna à calma, ao ver um brinquedo, ou doce, fui até a mesa e saboreei a refeição com tranquila gula. Após terminar, senti-me cansada e adormeci.
Minha alma vagou pelo Hades sem perturbações. Conheci espíritos muito antigos, que se trajavam de forma estranha, mas eram amistosos. Tratava-se de um homem de cabelos brancos e sorriso caloroso e seus dois jovens acompanhantes. Para minha surpresa consegui entender um pouco de sua língua, que me soava parecida com o romeno. Entendi que eles eram dácios, os antigos senhores desta região, e estavam querendo me conhecer. Nossa conversa foi um tanto truncada, mas alegre. Fazia uma manhã linda no Hades e logo surgiram lindas e risonhas crianças que me ofereceram flores. Eram dácias também. Por fim, surgiram mulheres jovens e de mais idade, todas muitos gentis. Não demorou para que eu me mostrasse muito alegre e descontraida, brincando de roda com as crianças. Foi quando a lembrança de Eni e Dácio veio à minha mente e parei de brincar. Meu coração apertou e as lágrimas surgiram. Pus as mãos no rosto e chorei convulsivamente. Quando abri os olhos, já estava de volta ao quarto, com Oanna olhando séria para mim.
_Sua viagem foi tranquila desta vez, não foi, Irina?
Não lhe disse, apenas emburrei o rosto em resposta.
_Quero que saiba que tenho poder de bloquear o acesso de Drácula a você. Faço isso para que entenda que não sou a tirana que imagina.
De repente, Dorotheea entrou no quarto, educadamente, e interrompeu:
_Com sua liscença, senhora. O banho da marquesa está pronto.
_Agradeçida, Dorotheea.
Ela então olhou para mim, ainda séria, por um momento, e em seguida disse:
_Espero que aprecie o banho e relaxe. Se quiser falar comigo, estarei na sala de jantar.
Saiu sem fazer alarde e deixou-me com Dorotheea. Esta se aproximou e falou em tom bem amável, como uma boa babá:
_Vamos, criança, não pode ficar sem acear-se o dia todo.
Levantei-me como uma menina contrariada e ela ajudou-me a tirar a camisola. Conduziu-me então para o banho, dando-me um leve tapa no traseiro.