sexta-feira, 25 de maio de 2012

SANSÃO



Antes de Nicolae ter sido ferido de morte, jamais havia parado para refletir sobre quanto tempo uma pessoa permanece morta, antes de despertar como um vampiro. Descobri naquela fatídica noite, que este tempo era infelizmente longo, pelo menos para a urgência de uma batalha. Perguntei à Vênus, em meu coração, por que os lobos se demoraram em encontrar meu corpo, na noite em que fui condenada? Talvez tivesse de ser assim... Talvez eu tivesse de viver minha condenação. Talvez tivesse mesmo de estar ali, esperando Nicolae despertar, para vingar a morte de papai, para livrar da opressão o nosso povo.
Pungida de dor, não me separei de Nika. Sentada sobre o chão, mantinha sua cabeça deitada sobre meu colo. Afagava seus cabelos, enquanto sentia seu corpo perder o calor pouco a pouco. Ele estava mole e isento de forças. _Meu poderoso Nicolae, como me doía vê-lo e senti-lo assim, destituído da força, do vigor que tanto lhe caracterizava!... _Um rio de lágrimas não parava de escorrer sobre meu rosto, não aceitando tê-lo como um leão abatido, como Sansão sem seus longos cabelos. Meus dedos mergulhavam em seus cabelos castanhos e os penteavam, como que contando as horas até ele voltar.
Foi quando senti, ainda que bem fracamente, seu coração voltar a bater. Sorri. Meus olhos derramaram mais lágrimas que antes. Ri com o rosto marejado. Seus braços então se moveram, como os de uma criança que se assusta com seus sonhos enquanto dorme. Seu coração acelerou... Ele estava retornando!... Afastei então um pouco o corpo, pois sabia que ele se ergueria bruscamente. Mal o fiz, ele se ergueu como alguém que emerge desesperado da água, para não se afogar.
Sentou-se, tentou erguer-se, caiu com o traseiro no chão. Ri. Ele olhava à sua volta assustado. Apressei-me, abracei-o, enchi seu rosto de beijos afaguei seus cabelos e o acalmei:
_Calma! Calma, meu guerreiro! Estou aqui!... A sua Iri está aqui...
Com os olhos arregalados, respirando ofegante, ele indagava desesperado:
_Iri... o que está acontecendo?... 
_Calma... _respondi abraçando-o e beijando-lhe o rosto.
_Iri... eu quero sangue!... Eu preciso de sangue!...
_Calma!... _beijei-lhe o rosto novamente _Vou lhe levar até o sangue. Terá todo sangue que precisa, meu Sansão!... Todo sangue que merece!...

domingo, 13 de maio de 2012

AMÉM



Subimos então rumo aos portões do castelo. À frente vinhamos eu, Mihail, Nicolae e os capitães da tropa, devidamente montados. Nossa infantaria seguia atrás, a pé. Abaixo do umbral dos portões abertos, Mózes acenou alegremente ao nos ver. Ninguém notou o estado auterado de sua alma. Intempestivo, Nicolae ordenou:
_Székelys!... Atacar!
Gritando, os homens não pensaram duas vezes, avançaram sem exitar! Mal entraram no pátio do castelo, suas espadas ceifaram a vida dos soldados do conde, que acordaram muito tarde do torpor em que estavam imersos. Encontrando pouca resistência, os homens logo procuraram as portas de acesso para o interior da fortaleza. Os soldados de dentro, porém, que não estavam sob meu encantamento, começaram a atirar e lançar setas das janelas. Muitos de nossos foram atingidos e mortos, mas isso não deteve a furia dos que continuavam vivos. Mesmo os feridos esqueciam a dor e continuavam o ataque. 
As primeiras portas foram arrombadas e os homens começaram a entrar. De espada em punho, montado em  seu corceu malhado, Nicolae bradava:
_Isso! Entrem! tomem o castelo!...
Identificando-o como sendo o líder, os soldados do conde começaram a cercá-lo. Os que dele se aproximavam mais, no entanto, eram imediatamente mortos pelos golpes certeiros de sua impiedosa espada. Notando que muitos já acorriam, puxou o freio e fez seu cavalo pisotear o rosto daqueles que vinham pela  frente. Quatro tiveram os rostos amassados. Vendo-o em apuros, fui em seu socorro. Abri caminho com a espada, cortando quantos rostos e pescoços encontrasse pelo caminho. Os que tentavam proteger-se erguendo o antebraço, os tinham decepados. Alcançando-o finalmente, abri as costas de um soldado que tentava derrubá-lo do cavalo. Logo em seguida, ceguei outro que vinha logo atrás, vazando-lhe ambos os olhos com um único golpe.
Porém, neste momento, meu coração apertou, num aviso. Imediatamente olhei para o alto da muralha e avistei um soldado apontando seu mosquete para Nicolae. Meu único reflexo foi gritar:
_Nicolae!!!...
Ele ainda chegou a virar-se e avistar o soldado. O tiro porém saiu imediato e o atingiu entre as costelas, bem próximo à coluna.
_Aaah!.. _gritou ele, contorcendo-se em seguida.
Incendiada pela fúria, puxei a pistola de sua cintura e atirei contra o soldado. Com meus reflexos muito mais aguçados do que os dos comuns mortais, o atingi no olho em que havia mirado, o esquerdo. Ele então tombou de lá de cima e espatifou-se no chão, quebrando o pescoço na queda. Tomei então o freio do cavalo de Nicolae e o conduzi para fora do castelo. A turba formada por nosso próprio exército nos retardou um pouco a saída. Conduzi Nicolae para longe da batalha, para uma pequena clareira. Lá chegando, o desmontei e deitei no chão. 
_Nica! Nica!... _gritava desesperada.
Tremendo, respirando com dificuldade e golfando sangue pela boca, ele respondeu já pálido:
_Irina... eu estou morrendo...
_Não... Não... Nããããõoo!!!... _gritei sem controle.
O abrecei forte, sentindo sua respiração puxar o ar com força. De repente... uma idéia surgiu em minha mente. Meu coração não sentiu nenhuma dúvida... Meus olhos ficaram vidrados e minhas presas se insinuaram... Sem mais pensar, cravei-as em seu  pescoço. Ele ainda soltou um leve gemido. Suguei  com força, para que ele espirasse rápido. Quando senti suas forças se esvairem, o larguei. Deitei seu corpo sem vida na terra. Olhei para ele então... para seu rosto pálido e seus olhos fechados, como se dormisse um sono profundo. As lágrimas desciam de meus olhos e se misturavam ao sangue que banhava minha boca. Um pensamento me consolava: "_Este era seu destino... Este era seu destino... Que assim seja... Amém!".

terça-feira, 8 de maio de 2012

TROIA



Quando chegamos ao castelo de conde Vladmir, fiquei admirada! Um exército numeroso de székelys cercava a fortificação, acampados e refestelando-se com sua ração de pão, carne de porco e vinho. À medida que cavalgávamos lenta e tacitamente entre os homens, eles olhavam para mim e diziam: "_Irina, Irina!..." _Sua reação era de admiração e respeito, embora alguns demonstrassem medo. Não foram poucos os que se levatantaram quando da minha passagem. "_Irina!..." _cumprimentavam sempre.
Não demorou para que os homens nos cercassem e parassem nossa caminhada. Foi quando, guarnecidos por uma pequena comitiva, vieram Nicolae e Mihail. Sorriram ao me verem e saudaram com alegria:
_Irina! _gritou Nicolae.
Desapeei e fui ao seu encontro. Com lágrimas nos olhos o abracei. Em seguida, abracei Mihail. Fui até sua tenda de guerra e eles me atualizaram sobre os acontecimentos. Mika começou:
_Retomamos nosso castelo e o poder sobre nossa comuna. Os soldados de Sigismond não mais entram em Somlyó. Já há dois dias estamos cercando conde Vladmir, presumimos que ele cairá ainda hoje.
_E as tropas do príncipe, por que não vêm em socorro ao conde? _indaguei desconfiada.
Nicolea respondeu:
_Não sabemos direito. Fomos informados de que um batalhão vinha para cá, mas até agora eles não deram o ar de sua desgraça! _e riu-se.
_Isso é estranho. _respondi. _Perder a comuna para seus legítimos habitantes é uma coisa, deixar seu principal entreposto à mercê do inimigo é o oposto da estratégia.
Mika interferiu:
_Pouco importa, I. Estamos a um passo de acabar com o conde e de libertar nosso país das garras dos infiéis e de Sigismond. Pedimos então que fique conosco e nos ajude.
_Ficarei. _prometi pondo minha mão sobre a dele.
Após nossa conversa, comemos e bebemos e folgamos com os demais homens. Quando me perguntavam se era vampira, respondia brincando: "_Com certeza beberia o sangue de conde Vladmir!", "_Acho que Sigismond é que é vampiro, vejam o quanto ele gosta de sangue!" _era algumas das respostas que eu dava.
Após a folga, chamei Mika à parte e lhe disse:
_Diga aos outros que fui me deitar. Entrarei no castelo da forma como você sabe e verei como poderemos entrar.
_Sim!... _respondeu Mika abrindo um imenso sorriso, quase não se contendo de satisfação.
Mika fez o que combinamos e tive sossego para sair de meu corpo. Meus homens vigiavam a entrada de minha tenda, para que ninguém atrapalhasse minha missão. Sai rapidamente, sob a forma de raio luminoso. Diante do castelo, transformei-me em névoa e entrei pelas frestas dos portões. Lá dentro, as almas dos soldados mortos choravam e batiam nas paredes de pedra, sem aceitar seu cruel destino. Muitos amaldiçoavam o conde. Sua revolta contagiava o espírito dos soldados vivos, que discutiam entre si a possibilidade de um motim, seguida não só de uma rendição, mas de uma adesão aos székelys. Enquanto observava as defesas e entradas do castelo, decidi que não aceitaria o apoio destes homens. Quem trai uma vez, trai a segunda!
Abrir os portões por dentro seria tarefa fácil, o que me preocupava era como poria nosso exército para dentro sem maiores resistências. O caminho a seguir veio à minha mente com facilidade: eu encantaria os soldados, excitando-lhes o desejo sensual, em seguida, abriria os portões. Avisaria então a meus demais e eles avisariam à Mika. Começaríamos então a invasão.
Comecei então a excitar-me, respirando forte e ofegante _como na hora da cópula! _irradiando minha luxúria. Os sentinelas começaram a se sentir excitados, lembrando de mulheres e momentos lascivos. Muitos massageavam seus membros sob as calças. Os mais afoitos punham-nos para fora e manipulavam sem nenhum pudor. Os que dormiam, sonhavam com cópulas ardorosas. Os pederastas se escondiam em recantos e sombras, entregando-se à felação e à sodomia.
Assim, absortos em sua lascívia, não perceberam quando destravei os portões e os entreabri lenta e suavemente, deixando uma brecha considerável para a entrada de nossos homens. Ri-me quando vi um dos soldados arregalando os olhos, ao se deparar com os portões se abrindo "sozinhos". Para que não causasse problemas, soltei um leve sopro e o fiz dormir. O pobre tombou no chão ainda segurando seu membro, que masturbava. Rindo-me pensei:
 _Nem os gregos, com seu cavalo de madeira, foram tão eficiêntes ao adentrarem os portões de Troia!...
Sem mais demorar-me, voltei rapidamente à tenda, sob a forma de faixo de luz. Mentalmente, dei ordem à Mircea para que preparasse Agathon. Quando sai da tenda, meu lindo corcel já me esperava selado.  Mentalmente, disse a meus companheiros: "_Sigam para Somlyó! Observem qualquer coisa incomum ao longo do caminho e quando chegarem lá também. Avisem-me então imediatamente de tudo o que se passa!". Desgostosos eles perguntaram quase ao mesmo tempo: "_Tememos por você Irina! Como saberemos que sobreviverá?!...". Simplesmente respondi: "_Confiem em mim!..." _e sorri. Montei então em Agathon e parti. De repente, em minha mente veio a imagem do jovem Mózes Székely. Constatando que podia usá-lo como álibi, o encantei à distância, sussurrando em seus ouvidos:
_Mózes... Mózes, meu soldado, monte seu cavalo e vá para o castelo!...
Como que possuído pela pela paixão e pelo desejo carnal, alucinado ele largou o jogo de cartas _onde levava vantagem contra seus amigos _montou em seu cavalo e partiu. Ri-me ao visualizar o espanto de seus companheiros com sua inesperada atitude:
_Mózes! Mózes! Aonde está indo seu blefador?! _chamava o jovem Ádám.
Nos ouvidos de Mózes, eu continuava ordenando:
_Vá para o castelo e aguarde em frente aos portões! Faça isso, meu bravo soldado!
Mentalmente, pedi à Florin para que avisasse à Mika que tivera sucesso em minha empreitada e que ele já podia reunir a tropa, pois o aguardava a meio caminho, já pronta para o combate.Uma vez avisado, Mika reuniu os homens e me encontrou esperando a meio caminho, como lhe prometera. Tendo os székely reunidos diante de mim, desembaainhei minha espada e disse:
_Székelys!... O jovem Mózes conseguiu entrar no castelo e abrir seus portões! Fez isso com destreza e bravura, demonstrando que merece o nome que tem! Ele nos aguarda diante dos portões e devemos nos apressar, antes que os sentinelas se dêem conta do que se passa... e cortem sua jovem cabeça!... Aqueles que forem székelys que me sigam!...
Ergui minha espada e ouvi o grito fervoroso dos guerreiros!